Homenagem eterniza Heleno de Freitas em sua terra natal (Nei Medina/Divulgação)

                             Estatua em sua cidade natal São João Nepomuceno 

 

                    O filme

 

   Estreia nesta sexta-feira dia 30 de março, em todo o Brasil, o filme “Heleno, o príncipe maldito”, que conta a história do centroavante Heleno de Freitas  que tem uma relação muito forte com nossa cidade Barbacena, ídolo do Botafogo na década de 40.  Rodrigo Santoro no papel de Heleno dirigido por José Henrique Fonseca.

    Rodrigo Santoro apresentou o filme no Festival Internacional de Cinema de Miami (EUA), no início de março. No filme, o diretor relembra a atmosfera dos anos 40, usando fotografia em preto e branco que evoca os clássicos filmes de Hollywood. No elenco, além de Rodrigo Santoro, estão Alinne Moraes, no papel de Ilma, Angie Cepeda, que vive Diamantina, uma vedete amante do jogador no auge da carreira, e Othon Bastos, interpretando Carlito Rocha, o mítico e supersticioso dirigente alvinegro.

Confira Abaixo o Trailer do Filme.

Relação Heleno e Barbacena 

     Em 1954, Barbacena respirava o nefasto ar da loucura. Inaugurado em 12 de março de 1903, o Azylo Central de Barbacena, mais tarde chamado de Hospital Colônia, recebia cerca de 3.500 pacientes por ano, registrando média de óbitos acima de 700. O terror, que o psiquiatra italiano Franco Basaglia compararia a um campo de concentração nazista, durou cerca de 80 anos. Série de reportagens “Os porões da Loucura”, publicada pelo Estado de Minas de 18 a 27 de setembro de 1979, revelou atrocidades como experiências e venda de cadáveres, abalando a opinião pública.

 

     Além do Hospital Colônia, que atendia indigentes, a cidade tinha quatro clínicas particulares, para pacientes de melhor condição financeira, entre elas a Casa de Saúde São Sebastião, inaugurada em 1948 pelos médicos José Theobaldo Tollendal e Hermont do Nascimento. Depois de internação fracassada no Rio e em Matias Barbosa, a família optou por tratar Heleno no hospital de um amigo de infância, o Dr. Tollendal, falecido em maio de 2010. Ele funcionou até 1995, quando deu lugar a hotel de mesmo nome, arrendado pelo empresário Sílvio Pires, de 60 anos, que só pintou corredores e instalou vasos de plantas para mudar o ambiente. A construção permanece intacta: 2.400m de área construída, capacidade para 130 pessoas e 80 quartos para hóspedes, entre eles o de nº 25, onde Heleno passou os últimos anos em devaneios: um espaço de 4m x 3m, sem banheiro, com uma cama e um guarda-roupa.

     O pátio onde tomava sol, cercado pela base de pedras e paredes de 5m de altura, silencioso e carregado de clima pesado, já afastou hóspedes que nem sabiam que ali havia sido um hospital. Os quartos 42 e 43, ao lado da sala dos prontuários médicos, não recebem pessoas há anos.

 

     Entre 1952 e 1953, Heleno viveu entre o Rio e São João Nepomuceno, onde era atração: ia ao restaurante do Bar Central, aos bailes do clube Democráticos e jogava sinuca no Bar do Cida, mas já apresentava sinais da doença. O vício ainda o corroia e as receitas médicas que chegavam à Farmácia Oswaldo Cruz eram sempre acompanhadas de um P.S. cifrado: “Dê a Heleno o que o Heleno precisa”. Era éter.

     Em maio de 1953, jogou a última partida antes da internação. Com a camisa vermelha e branca de Rochedo de Minas, da cidade de mesmo nome, enfrentou um combinado de Guarani. “Eu era o ponta-direita e Heleno o centroavante. Não ria para ninguém, era grande e glamuroso. Num lance, matou a bola no peito e fuzilou o canto do goleiro. No outro, chutou de fora da área, marcando outro golaço”, recorda Sebastião Mattos, aos 76 anos.

Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press

Estádio do Olympique onde Heleno enfrentou

Seu antigo Clube Botafogo.

 

     Para a médica Lucinéia Carvalhaes, diretora clínica do Hospital Eduardo de Menezes, em BH, é possível que Heleno tenha contraído sífilis nos primeiros anos da vida sexual, pois era comum então ter as primeiras relações com prostitutas. Conhecedor das preferências do velho amigo, dr. Tollendal o acompanhava ao campo do Santa Tereza para ver treinos do Olympic. Raras vezes Heleno jogou, mas era chamado para dar o pontapé inicial em partidas festivas. “Ficava sentado assistindo. Mas ao ver um erro, começava a se exaltar e a xingar os jogadores do outro lado da grade. Falava coisas sem sentido e já estava com a feição transtornada”, lembra Danton, de 79 anos, ex-goleiro do Olympic e do Madureira.

 

     Na inauguração da iluminação do estádio, no fim de 1956, o Olympic enfrentou o Botafogo. Heleno foi visitado pelo ex-time, então treinado pelo ex-parceiro de ataque Geninho. Foi o único encontro com outro gênio atormentado do alvinegro: Garrincha. Sempre ao lado do médico, tomava refrigerante no Bar Colonial e buscava charutos na Tabacaria Minas Gerais, no Centro. “Meu pai falava que ele passava, pegava o fumo, dizia ‘Eu sou o Heleno’ e saía sem pagar”, contam os irmãos Luiz Galvão e Sebastião Pereira, herdeiros da loja. Com mania de grandeza, falava coisas sem nexo. Os tempos de glória ainda o atormentavam. Dizia que a cada gol pelo Boca era obrigado a dar um abraço em Evita Perón, a primeira-dama Argentina.

     No fim de 1957, Tollendal escreveu a Heraldo: a saúde e a sanidade pioravam rapidamente. Ele havia perdido muito peso, os dentes estavam enfraquecidos e o cabelo caía. Havia passado a ouvir vozes, agir de forma violenta e infantil, comer papel e rasgar roupas com os dentes. Pele enrugada, cabelos ralos e brancos, aos 38 anos, o homem de 1,80m pesava pouco mais de 40kg. Na manhã de 8 de novembro de 1959, ao abrir a porta do quarto com o café da manhã, um enfermeiro encontrou Heleno morto. A ida do corpo para São João Nepomuceno foi tão conturbada quando a vida do mito. Caía verdadeiro dilúvio. Às 15h, perto de Juiz de Fora, o caixão teve de ser trocado de carro, que meia hora depois atolou. Só chegou à cidade às 9h da manhã seguinte. “No velório, um senhor de cerca de 50 anos ficou o tempo todo ao lado do caixão. Devia ser alguém que conviveu com o astro. Depois ninguém nunca mais o viu”, lembra Helenize. O comércio fechou e uma fila seguiu o caixão da casa da família, na Rua Capitão Braz, até o cemitério São João Batista, onde Heleno foi enterrado às 15h, ao lado dos pais e de Heraldo.

Fonte: Jornal Estado De Minas 

Abaixo gol de Heleno de Freitas pela seleção carioca no torneio "Rio-São Paulo". 

         

Heleno de Freitas no Botafogo - Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro

        

Heleno de Freitas no Botafogo - Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro

Heleno de Freitas no Botafogo - Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro

Heleno de Freitas no Botafogo - Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro

Heleno no Rio de Janeiro - Acervo Estado de Minas / O Cruzeiro